quinta-feira, 15 de março de 2012

Uma nova Vida


O universo é o mestre da reciclagem, sempre com a mesma quantidade de matéria ele vai inovando, recriando, expandindo, é o principio de Lavosier: “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”.

Também nossas vidas são feitas de ciclos e ao final de um ciclo, existe sempre um novo por iniciar.

Ao procurar meus amigos do passado, acabei reencontrando uma pessoa, um grande amor da juventude, a Cláudia. Em geral, muitos amigos, amigas,  pessoas que haviam feito parte de minha vida no passado, trocavam algumas palavras comigo, deixavam mensagens de otimismo e seguiam suas vidas. Apenas aqueles eternos amigos, aqueles mais próximos pareciam realmente sentir a minha dor.

A Cláudia, tendo uma irmã com esta doença, passou a me orientar, insistiu que eu obtivesse uma segunda e até uma terceira opinião médica, me levou até os dois melhores hospitais de São Paulo, talvez da América Latina, referencias no assunto, a AACD e a UNIFESP.

Nesta época, com o nervoso que eu vinha passando, tornou-se muito difícil caminhar e o meu equilíbrio ficou bastante prejudicado, caminhar nas ruas era muito difícil, mas, o pior mesmo era o olhar do povo. Um dia eu tinha uma consulta, estava sem carro, caminhei até a avenida, como não passava nenhum taxi, eu desci três quarteirões até o ponto deles. Este percurso foi triste, eu fui caminhando, minhas pernas foram ficando espásticas, endurecidas, eu tinha que fazer mais força para caminhar, as costas doíam, eu tinha vontade de sentar, mas, não tinha onde, as pessoas na rua evitavam me olhar nos olhos, afastavam crianças de meu caminho e até a polícia militar seguiu meus passos com uma viatura bem lenta.

A verdade é que eu aparentava um monstro, um bêbado, um drogado, certamente eu era assustador aos olhos dos outros e isto machucava a minha alma. Eu cheguei mesmo a levar tombos na rua e apesar de minha dificuldade para conseguir me reerguer, ninguém ofereceu ajuda.

Foi em uma clínica de fisioterapia, que o médico me receitou pela primeira vez o uso de bengala, isto deveria dar maior firmeza a meus passos e certamente mudaria a forma com que os outros me veriam.

Só que utilizar uma bengala significava assumir minha deficiência assim como pedir a aposentadoria significava assumir minha invalidez e eu não estava preparado para isso.

Foi uma fase difícil, uma época que meus amigos foram positivamente decisivos na minha vida, em especial a Cláudia. Muitos me ouviram, mas, a Cláudia me fez ver o quanto eu era mais feliz do que aqueles que já nasceram deficientes, me fez encarar e enfrentar a minha realidade, me fez lembrar de quem eu “era” e que isto não mudara com a deficiência, me enxergou como eu realmente sou, ela foi uma luz na minha escuridão.

Nesta ocasião, impulsionado pelos amigo e pela Cláudia é claro, eu escrevi um livro, sobre a nossa juventude, a história de nossa turma do clube, nunca o editei, acho que nem sei como fazê-lo, mais revivi momentos bons de minha vida ao escrevê-lo e todos os meus amigos, personagens desta história puderam acompanhar “on line” em tempo real as atualizações e gostaram muito.

Hoje eu sou casado com a Cláudia, somos muito mais felizes do que eu podia imaginar que seria um dia, principalmente depois da deficiência e de tudo que vivi.

A Cláudia, é mais do que uma mulher, é um ser humano incrível, ela é professora da rede municipal de São Paulo, especializada em educação especial, possui um currículo incrível, atuou na APAE de São Paulo, vive se atualizando e se reciclando, possui um blog que eu respeitosamente, com muita honra e orgulho os indico:

Descobrindo pessoas, Construindo inclusão


Que também pode ser acessado na barra lateral de meu blog, sob o título “meus parceiros de luta”.



9 comentários:

  1. Respostas
    1. Prima, escrever um livro neste país é um parto, nos devidos modos demandariam um significante custo, logo busca de patrocinadores que a minha saúde não permite. Estou estudando uma possibilidade de disponibilizá-lo por internet, quando encontrar a melhor forma eu avisarei.

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  2. Rubinho, Acho que palavras de conforto neste momento seriam redundantes, visto que, com sua força de vontade e persistência, você assumiu sua condição e está mostrando a todos que a felicidade não está em ser como os outros, mas ser você.
    Eu te admiro muito. Vivi muitos momentos de sua vida com você e acredito que apesar dos descaminhos, continuamos sendo aqueles amigos do tempo do Indiano.
    eu nunca me esqueço de um fato recente em que você nos convidou para comemorar sue aniversário e fui com minha esposa e um de meus filhos. Infelizmente, naquele dia choveu muito e nossos amigos não puderam comparecer mas eu senti o quanto foi importante para mim em participar deste momento com você. Um ato muito simples, mas que mostrou sua satisfação em nos ver e a minha satisfação em estar lá.
    Cara você é forte e nos mostra a cada dia até onde podemos chegar. Obrigado por fazer parte de minha vida. Beijos. Estou com saudades de todos.

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    1. Zé, foram muitos momentos felizes e engraçados que vivemos juntos, toda a nossa turma do clube, mas, o marcante de nossa amizade sempre foi a presença nos momentos difíceis e suas palavras são prova disso. Sou abençoado pelos amigos que Deus me encaminhou. Abçs.

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  3. Existem dois seres que eu tenho certeza fazerem parte desse mundo: heróis, que se superam a cada momento, vencendo barreiras aparentemente intransponíveis; e Deus, que é Bom!

    Parabéns pela narrativa.

    Abraços renovados!

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  4. Indicado pelo meu amigo virtual Joel G. Costa, fiquei conhecendo parte de sua história. Com isso pude novamente observar que nada acontece por acaso, que a missão que temos que cumprir neste mundo será cumprida. Veja quantas voltas deu o seu mundo e você continua firme, ao lado de sua, agora esposa, Cláudia. A vida passará, o tempo continua correndo como um grande rio em busca do oceano da eternidade onde ninguém será deficiente, não haverá orgulho, vaidade, nenhum sentimento de superioridade nem de inferioridade. Sua coragem, sua busca pela vida, são exemplos para a humanidade, pricipalmente para aqueles que vivem reclamando pelas esquinas, como dizemos no popular: "chorando de barriga cheia".
    Meu abraço.

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