Eu nasci saudável, como milhões
de pessoas neste mundo, em uma família que sempre desconheceu a deficiência como
outras tantas neste país. Aquele lá em cima era eu, jogando de goleiro, na
época em que servi o exército. Curiosamente, em toda a minha infância, bem como
na adolescência e até mesmo até a conclusão do curso superior eu conheci apenas
uma pessoa, um grande amigo do clube, que por infelicidade muito grande, havia
ficado impossibilitado de caminhar. Aquele fato foi muito marcante em minha
vida, não só pela proximidade da pessoa, mas, pelo fato que o mesmo fosse um
grande atleta, marcante seria também a bravura com que esta pessoa lidou com o
problema, sempre lutando e nunca reclamando. Eu era jovem e este pareceu ser um
fato isolado, no mais, eu jamais convivi
com portadores de deficiências de qualquer tipo. O mundo parecia perfeito,
escolas, clubes, bares, restaurantes, cinemas, shoppings, rodoviárias, portos e
aeroportos eram locais onde somente pessoas perfeitas freqüentavam. A impressão
era que as deficiências aconteciam muito raramente e tinham como alvo em grande
maioria os menos favorecidos financeiramente, já que em todos os lugares que eu
freqüentava, a deficiência estava sempre nas ruas, pedindo esmolas.
Foi em minha primeira visita a
Europa, que me surpreendi, pessoas com deficiências diversas ou múltiplas
estavam nas ruas, trabalhavam, pegavam ônibus, dirigiam, tinham vida social,
haviam vagas especiais para pararem, acessibilidade a escolas, shoppings,
cinemas, teatros, a tudo enfim. De visita aos Estados Unidos, pude notar que lá
também eram muitos os deficientes com vida social, alias, por lá também havia
preocupação e respeito com os obesos, eram assentos em transportes, cinemas,
teatros e carrinhos elétricos em parques e locais públicos, tudo para incluir o
deficiente à sociedade.
Em conversa com um colega,
cidadão norte americano, eu comentei estranhar o número de deficientes
participantes da rotina diária na Europa e na América do Norte, me lembro de
ter dito o que achava ser uma realidade na época, que no Brasil o número de
deficientes era irrisório, ele me disse: “... – meu amigo, eu desconheço a
história de sua nação, mas, a história da Europa foi escrita com sangue, foram
milênios de guerras e conquistas, aqui não foi diferente, uma guerra pela
independência, a guerra de secessão, duas guerras mundiais, Coréia e
Vietnam...”. Eu fui ouvindo e fui desenhando em minha mente um quadro muito
diferente do dia a dia brasileiro, ele continuava: “... – em uma guerra, mesmo
vencendo, existem baixas, existem mutilados e como tratar aqueles que
ofereceram suas vidas pela nação? Trancando-os em casa? Tirando-lhes a
dignidade? Também é razoável o número de deficientes de nascença e maior número
de pessoas que adquirem deficiências por acidentes e doenças. A sociedade aqui
entende que todos são consumidores quando economicamente ativos, o governo
entende ser melhor tê-los reintegrados que aposentados, os políticos entendem
que são eleitores, as empresas entendem que aqueles que vencem uma deficiência
tem muito mais força para buscar objetivos. Existem muitos exemplos de
superação aqui na América, você deve conhecer Ray Charles, Steve Wonder e
Franklin Delano Roosevelt, o presidente que colocou a América na segunda grande
guerra...”, ele ainda concluiu: “... afinal, o que é uma civilização senão
oferecer oportunidade a toda sociedade?...”.
A verdade é que isto não passou
mesmo de uma simples conversa por uma curiosidade minha. Aqui no Brasil, não existiam
sequer vagas para deficientes naquela época, as calçadas de São Paulo, cidade
mais rica da união eram um verdadeiro mosaico, irregulares em todos os sentidos
da palavra, mas, afinal, aqui não existiam deficientes, só alguns idosos e
estes que ficassem em casa né? Pensamento bem brasileiro, um povo que não tinha
deficientes, será?
PARABÉNS PELO DEPOIMENTO, VOCÊ ESTÁ ORIENTANDO E PASSANDO FORÇA PARA OS QUE ACHAM QUE TEM SÉRIOS PROBLEMAS E NA VERDADE RECLAMAM POR ACONTECIMENTOS PEQUENOS. TENHO UMA CRIANÇA ESPECIAL DENTRO DE MINHA CASA. ASSINO EM BAIXO TUDO QUE FALASTES.
ResponderExcluirNAMASTÊ.