segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Um pouco de mim e uma visão bem errada da vida



Eu nasci saudável, como milhões de pessoas neste mundo, em uma família que sempre desconheceu a deficiência como outras tantas neste país. Aquele lá em cima era eu, jogando de goleiro, na época em que servi o exército. Curiosamente, em toda a minha infância, bem como na adolescência e até mesmo até a conclusão do curso superior eu conheci apenas uma pessoa, um grande amigo do clube, que por infelicidade muito grande, havia ficado impossibilitado de caminhar. Aquele fato foi muito marcante em minha vida, não só pela proximidade da pessoa, mas, pelo fato que o mesmo fosse um grande atleta, marcante seria também a bravura com que esta pessoa lidou com o problema, sempre lutando e nunca reclamando. Eu era jovem e este pareceu ser um fato isolado, no mais, eu  jamais convivi com portadores de deficiências de qualquer tipo. O mundo parecia perfeito, escolas, clubes, bares, restaurantes, cinemas, shoppings, rodoviárias, portos e aeroportos eram locais onde somente pessoas perfeitas freqüentavam. A impressão era que as deficiências aconteciam muito raramente e tinham como alvo em grande maioria os menos favorecidos financeiramente, já que em todos os lugares que eu freqüentava, a deficiência estava sempre nas ruas, pedindo esmolas.

Foi em minha primeira visita a Europa, que me surpreendi, pessoas com deficiências diversas ou múltiplas estavam nas ruas, trabalhavam, pegavam ônibus, dirigiam, tinham vida social, haviam vagas especiais para pararem, acessibilidade a escolas, shoppings, cinemas, teatros, a tudo enfim. De visita aos Estados Unidos, pude notar que lá também eram muitos os deficientes com vida social, alias, por lá também havia preocupação e respeito com os obesos, eram assentos em transportes, cinemas, teatros e carrinhos elétricos em parques e locais públicos, tudo para incluir o deficiente à sociedade.

Em conversa com um colega, cidadão norte americano, eu comentei estranhar o número de deficientes participantes da rotina diária na Europa e na América do Norte, me lembro de ter dito o que achava ser uma realidade na época, que no Brasil o número de deficientes era irrisório, ele me disse: “... – meu amigo, eu desconheço a história de sua nação, mas, a história da Europa foi escrita com sangue, foram milênios de guerras e conquistas, aqui não foi diferente, uma guerra pela independência, a guerra de secessão, duas guerras mundiais, Coréia e Vietnam...”. Eu fui ouvindo e fui desenhando em minha mente um quadro muito diferente do dia a dia brasileiro, ele continuava: “... – em uma guerra, mesmo vencendo, existem baixas, existem mutilados e como tratar aqueles que ofereceram suas vidas pela nação? Trancando-os em casa? Tirando-lhes a dignidade? Também é razoável o número de deficientes de nascença e maior número de pessoas que adquirem deficiências por acidentes e doenças. A sociedade aqui entende que todos são consumidores quando economicamente ativos, o governo entende ser melhor tê-los reintegrados que aposentados, os políticos entendem que são eleitores, as empresas entendem que aqueles que vencem uma deficiência tem muito mais força para buscar objetivos. Existem muitos exemplos de superação aqui na América, você deve conhecer Ray Charles, Steve Wonder e Franklin Delano Roosevelt, o presidente que colocou a América na segunda grande guerra...”, ele ainda concluiu: “... afinal, o que é uma civilização senão oferecer oportunidade a toda sociedade?...”.

A verdade é que isto não passou mesmo de uma simples conversa por uma curiosidade minha. Aqui no Brasil, não existiam sequer vagas para deficientes naquela época, as calçadas de São Paulo, cidade mais rica da união eram um verdadeiro mosaico, irregulares em todos os sentidos da palavra, mas, afinal, aqui não existiam deficientes, só alguns idosos e estes que ficassem em casa né? Pensamento bem brasileiro, um povo que não tinha deficientes, será?

Um comentário:

  1. PARABÉNS PELO DEPOIMENTO, VOCÊ ESTÁ ORIENTANDO E PASSANDO FORÇA PARA OS QUE ACHAM QUE TEM SÉRIOS PROBLEMAS E NA VERDADE RECLAMAM POR ACONTECIMENTOS PEQUENOS. TENHO UMA CRIANÇA ESPECIAL DENTRO DE MINHA CASA. ASSINO EM BAIXO TUDO QUE FALASTES.
    NAMASTÊ.

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